Um dos hotéis que me servem de base, o Sofitel, em Amsterdam (no centro, a uma quadra do Dam), ocupa um prédio construído no século XVII, impecavelmente conservado, como tudo, por aqui. Muito diferente de Haia, cidade planejada, onde cada coisa tem seu lugar certo para estar.
Amsterdam é a maior cidade do país, com 740 mil habitantes e centenas de quilômetros de canais que, no centro da cidade, a fazem lembrar Veneza.
Esses canais servem não apenas para a locomoção (barcos particulares, de turismo e táxi) e transporte de cargas, como também para moradia. Já que na Holanda nunca sobra espaço (são 200 habitantes por quilômetro quadrado!), há centenas de casas-barco. Por falta de opção, por extravagância ou por puro prazer, vivem milhares de pessoas nos canais. Assim como milhões de peixes.
Os canais são limpíssimos, apesar das embarcações indo e vindo. Não é difícil, em Amsterdam, ver alguém com caniço, sentado à beira de um viaduto, pescando.
Amsterdam é única. Em nada se parece com o resto da Holanda. Talvez por ser uma das poucas cidades históricas, com várias centenas de anos, que não foram destruídas pelas duas guerras que assolaram o país, e preservam suas características antigas.
Talvez porque pessoas do mundo todo vivam ali. Há gente de 150 nacionalidades. Uma miscigenação tão imensa, que Amsterdam fala todos os idiomas. Nas ruas, o menos ouvido é o proprio holandês.
Talvez porque o povo local esteja tão acostumado à presença de estrangeiros (desde o século XVI a visitam), que os trata com a naturalidade de vizinhos ou amigos de infância.
Talvez por ter uma vida noturna extremamente diversificada, que inclui o clube noturno mais antigo da Europa, em atividade desde os anos 60 e propositadamente batizado Paradiso, por funcionar dentro de uma igreja.
Talvez porque, embora a maconha seja descriminalizada em todo o país, seja em Amsterdam que seu consumo é mais intenso e por isto é tão procurada por jovens estrangeiros.
Talvez por tudo isto, talvez por mais um tanto que nunca saberei, Amsterdam é uma Holanda à parte da Holanda.
(Na foto, em um cinzeiro do Paradiso, meu Carlton - trouxe do Brasil; cigarros, na Holanda, não custam menos de 4 euros - e um cigarro de maconha que não sei como foi parar ali)